Área Residencial

A manhã cinzenta anunciava a vinda de tempos escuros em Panem. O frio que acompanhava o sol camuflado no céu por nuvens cinzentas indicava a entrada do inverno por Panem. Naquela manhã em particular Alexei caminhava um tanto quanto perdido entre as casas da parte nobre da área residencial, não procurava nada em particular, apenas contemplava sua própria companhia entre grandes residências e árvores velhas. Gostava daquela parte em particular, fora do alcance da vigia rígida dos pacificadores e habitualmente vazia entre seus moradores. Alguma casa entre aquelas pertencia a Gloom, a última campeã dos jogos do primeiro Distrito. Pegou-se imaginando ter uma vida de luxo, podendo andar livremente entre o Distrito e a Capital, tendo dinheiro o suficiente para alimentar a si mesmo e mais quatro ou cinco famílias. Seu inconsciente desejava aquilo, já que era uma oportunidade de ter uma vida melhor junto de sua avó. Mas se o preço para a fama e riqueza era ser jogado em uma arena com outros vinte e três adolescentes, a oportunidade já não parecia ser tão tentadora assim. Tornar-se um suicida e voluntariar-se pros Jogos também estava fora de cogitação. Suspirou fundo, absorvendo o ar úmido e gélido, tentando afastar seus pensamentos frustrados.

Foi quando um choro lhe chamou atenção, o atraindo para um beco pequeno entre duas monstruosas casas. Encarava uma criança, uma garota com cerca de quatro anos e sozinha, chorando e apontando pro topo da única árvore que ali estava. Aproximou-se querendo ajudar, por mais que a cada passo mais perto da garota irritava-se devido à altura do choro. Não é que não gostava de crianças, apenas nunca teve contato direto com uma. Irritava-se facilmente. Com certeza não seria um bom irmão.

– O que foi garota? – Questionou ainda atônito pelo som dos berros constantes que ela emitia. Abaixou-se procurando ficar na mesma altura que a pequenina, mas ainda assim evitando toca-la com medo de só piorar a situação. - Gatinhoooooooooooooooooooo! - Sua voz era leve, porém carregava um tom agoniado que não deveria pertencer a uma criança. Olhou pro topo da árvore, velha e seca pelo tempo, a procura de um gato. Demorou em encontrar o tal animal, deitado em um galho fino na parte mais alta e parecendo pouco importar-se com a garota que reclamava afligida logo abaixo. Avaliou o local, procurando algum cesto de lixo ou um objeto qualquer que pudesse ajuda-lo a subir e alcançar o animal, mas frustrou-se ao notar que aquele beco consistia apenas na velha árvore. Teria que escalar, o que imaginou não ser tão complicado.  

– Você quer que eu pegue? – Questionou, embora a resposta parecesse óbvia demais. Sem nem ao menos esperar a garota responder, aproximou-se da árvore enquanto estudava suas opções para a escalada. Decidira segurar em um dos galhos mais baixos, que a primeira vista pareceu ser forte o suficiente para aguentar o peso de um garoto de dezesseis anos. Transferiu parte do seu peso para o galho antes de soltar todo o seu peso, testando a resistência do mesmo. Era grosso, porém curto demais. Julgou que deveria subir rapidamente, ao contrário disso acabaria passando por cima do galho e caindo do outro lado, sem conseguir se sustentar na árvore. Pendurou-se no galho e subiu, aplicando toda sua força e velocidade para conseguir realizar tal ato. Esticou a perna até o tronco direita, dando impulso para conseguir alcançar o próximo galho e sentar naquele que havia segurado antes. Falhou, escorregando um pouco para a direita e acabando pendurado na árvore apenas por um braço e metade da pera esquerda que enroscara-se em galhos menores.

Seu corpo começara a reclamar imediatamente, fazendo Alexei reagir imediatamente içando-se para cima com o braço que continuava agarrado no galho. A garota estava em silêncio, observando. Sentou-se na ponta do galho encostando as costas no tronco, atrás de algum ponto de apoio para subir. Em sua mente pode ver imagens de Jogos anteriores, que costumava assistir na televisão, e procurou lembrar-se dos movimentos que eles faziam enquanto escalavam. Estava três galhos abaixo do gato, que mais parecia tirar um cochilo do que notar a presença do garoto e a criança ali. Apoiou as mãos no galho acima de sua cabeça e fixou um dos pés no tronco da árvore, entre duas lascas de madeira soltas. Ergueu o outro pé procurando erguer o máximo possível do corpo, sentiu alguns fiapos de madeira entrando em sua pele enquanto pendurava-se entre os galhos como um animal. Ignorando a dor procurou soltar seu pé preso, equilibrando-se para não cair enquanto o erguia junto ao corpo. O processo estava sendo mais lento do que o esperado. Abraços a árvore e esticou as pernas, dobrando-as em seguida e ficando de pé sobre dois galhos finos e largou. Continuou agarrado ao tronco com todas as suas forças, agora sem manter contato com o animal que estava apenas a um galho de distância. Ao virar-se perdeu o equilíbrio, tombando pra frente e enroscando-se entre os galhos pequenos e secos. Estava com certeza sangrando.

Agarrou o animal, que cabia perfeitamente na palma de sua mão, e permaneceu naquela posição desconfortável enquanto guiava o bicho para alguns galhos mais próximo. Ao segura-lo com maior firmeza acabou perdendo o equilíbrio, e caiu enquanto abraçava o gato com todas as suas forças. Pra sua surpresa não chegara ao chão, mas estava de volta no galho no qual iniciara. – Mais difícil do que parece...  – Disse enquanto largava o gato, diretamente nos braços da criança agora sorridente. Sentia parte de sua pele sangrado e outra parte com alguns arranhados. Pulou da árvore, abominando sua burrice ao cair enquanto resgatava o animal. A garota parecia nem notar mais a presença de Alexei. Afastou-se e seguiu seu caminho, imaginando se poderia treinar a escalada no centro de treinamento ilegal.

Olá, Alexei.

+ Meio ponto em Escalar.