PERSONALIDADE

Aspër possui uma personalidade complexa, permeando perigosamente entre trevas e luz. A garota de apenas dezoito anos sempre fora um tipo único de múltiplas personalidades, na verdade, Aspër se molda de acordo com cada cenário, evitando sua própria demasiada exposição. Sempre acreditou, tento provas concretas de suas crenças, que o mundo não é um bom lugar para se viver. Talvez um dia tenha sido, mas nos dias atuais é difícil acreditar que houve um tempo feliz repousado sobre a Terra. Descrente da raça humana, a jovem guarda seu medo de sua própria espécie num lugar bem enterrado dentro do peito, onde também guarda suas dores e a frágil Aspër que poucas pessoas puderam conhecer. Desprovida de fragilidade, moldada por frieza e sarcasmo, cinzelada em desconfiança e cautela, milimetricamente entalhada em languidez. Seria hipocrisia dizer que Aspër é uma garota feliz, mas seria uma hipocrisia maior ainda dizer que ela não sabe tirar proveito de cada situação com maestria. Seu belo rosto de feições angelicais, bem desenhadas e meigas, sempre tornaram as coisas mais fáceis, e mascarar a verdade acabou tornando-se um vício, afinal, nem tudo o que a jovem realmente sente condiz com sua aparência. Prefere observar, fala pouco, mas ouve absolutamente tudo. Viver envolta de silêncio aumentou a fragilidade de seus ouvidos, transformando Aspër numa gatuna. Silenciosa, certeira, sorrateira, perigosa, traiçoeira e arguciosa. Porém, ainda existe resquícios de uma poeira denominada afeto, impregnada nas paredes do pobre coração da garota. Sua família é sua fortaleza, seu ponto de lucidez em meio a toda loucura do governo. A garota é capaz do impossível para proteger aqueles que ama e se doa de corpo e alma em assuntos que lhe passam firmeza e confiança. É difícil conquistar Aspër, mas a batalha compensa. Suas relações amorosas são apenas físicas, evita ao máximo envolver-se emocionalmente e costuma magoar muitas pessoas por estar sempre mantendo-se há uma distância considerada segura. Quando o terreno passa a ser conhecido, Aspër se mostra uma pessoa com um senso de humor bastante incomum, se levado em conta o caos de seu mundo. Pode ser muito carinhosa e protetora quando quer, ou quando acha que vale a pena, mas são vertentes pouco exploradas e que exigem um imenso cuidado, já que o perigo é incalculável quando se trata de Duchet. Aspër nada mais é que um gigantesco castelo de cartas. Majestoso, erguido de forma poderosa sobre uma superfície qualquer, no entanto, a beleza e delicadeza vistas no equilíbrio perfeito de um monte de cartas de baralho empilhadas num castelo pode ser destruído com um simples sopro a qualquer instante.

HISTÓRIA

Os punhos estavam envoltos por faixas encardidas, amareladas em razão do tempo e do uso, pigmentadas por um carmim envelhecido proveniente de ferimentos antigos, erguidos diante do rosto cansado e suado numa espécie de proteção, enquanto o restante do corpo movia-se com uma agilidade inacreditável. Era mesmo humana?

- Há quanto tempo Aspër está no ringue?

- Há três horas e quarenta e cinco minutos... – O homem fitou o relógio em seu pulso e suspirou, voltando a encarar a garota.

- Sem pausas?

Um gesto positivo feito com a cabeça foi a resposta.

Era seu décimo sétimo oponente, ou talvez, o décimo oitavo. Estava cansada. O suor que brotava de sua fronte escorria por sua face e a cegava parcialmente, sufocando suas narinas e umedecendo seus lábios rachados e ensanguentados. Aspër movia os pés como se estivesse dançando, os olhos sempre fixos no oponente, as mãos sempre postas diante do rosto, e então, um soco. Seu punho latejou ferozmente ao atingir o nariz do adversário, que cambaleou para trás engasgado com o próprio sangue.

- Os movimentos são rápidos demais. – O murmúrio foi o bastante para fazer a jovem desviar minimamente o olhar para os dois homens que assistiam sua performance.

O milésimo de distração foi o suficiente para que o oponente acreditasse ser capaz de derrota-la. O punho do rapaz seguiu em linha reta até a face pálida da garota. Aspër virou-se a tempo de desviar do golpe, inclinando a cabeça alguns centímetros para o lado. A cena toda estava em câmera lenta, mas de repente, as coisas passaram rapidamente diante de seus olhos, como uma vida que passa num piscar e então você está morto. O punho que antes pairava esticado no ar, fora agarra com força pela mão ágil. A outra mão, até então desocupada, agarrou a regata suja do adversário e então o armlock voador fora aplicado com precisão e destreza quando as pernas de Aspër saíram do chão para esmagar os ombros e braços de Deyn. A luta tornou-se uma só quando ambos foram ao chão num emaranhado de braços e pernas. Durou dois segundos. Eles caíram, algo estalou alto juntamente com o ecoar de um berro de dor, Aspër soltou-se de Deyn numa cambalhota ágil e saiu do ringue.

- Ele precisa de um médico. O ombro esquerdo foi deslocado do lugar e o braço esquerdo teve duas fraturas. – Cuspiu no chão, passando pelos homens que assistiam o combate sem olha-los nos olhos.



A imagem que habita a mente de Aspër em seus treinamentos ou em momentos de fúria total é sempre a mesma. Seu pai sendo degolado em praça pública. Em seu distrito, ainda é conhecida como a garotinha de apenas sete anos que apanhou de pacificadores da falha tentativa de salvar seu pai da morte. Aspër colocou-se entre o pai e os agentes da Capital quando fora anunciada a morte de Ethan por traição ao governo de Panem. A decapitação em praça pública fora um ato desesperado para abafar qualquer tipo de levante que o Distrito 5 viesse a criar. Ethan pagou um alto preço antes de morrer. Além das torturas sofridas para que confessasse todos os seus planos, viu sua esposa ser estuprada pelo chefe dos pacificadores sem poder fazer nada. Até hoje não se sabe se Ethan e Clarence eram realmente traidores, cúmplices para derrubar a Capital e seu governo, é como se tudo o que acontecera a respeito das acusações tivesse sido enterrado e esquecido. Aspër cresceu com as imagens da morte do pai muito vívidas em sua memória e isso sempre fora o que a impulsionou a se transformar em quem ela é. A mãe, Clarence, escapou da morte eminente por pouco, mas ainda carrega consigo o peso de ter sido abusada física e psicologicamente pela Capital. Além de Clarence e Aspër, atualmente a família é composta por Sëa (24), filho mais velho que trabalha na mesma área que a mãe – dentro do centro de manipulações genéticas do Distrito 5 – e Jonah (19) que atua na caça junto da irmã. A família não é rica e nem se esbalda, mas possuem uma vida tranquila e não passam fome. Aspër é uma das garotas que servem de cobaia numa espécie de ringue dentro do D5. O ringue foi criado para colocar em avaliação medicamentos criados por cientistas (como a mãe da garota) para aumentar a resistência e força dos pacificadores de Panem. A jovem aprendeu a lutar com os irmãos mais velhos que por sua vez, aprenderam com o pai, antes de sua morte. Antes mesmo de entrar em contato com o soro manipulado, Aspër já era uma exímia lutadora, com reflexos rápidos, agilidade e flexibilidade, porém, agora, tornou-se implacável. Por ter tido contato com o soro especial, acha extremamente difícil participar dos Jogos, a não ser que a Capital queira mais um vencedor do Distrito 5.

FICHA MÉDICA

+ Crises de enxaqueca;
+ Insônia;
+ Lapsos de memória;
+ Colapsos nervosos (crises de raiva/explosão eminente);
+ Algumas cicatrizes pelo corpo.