[OFICIAL] 1° Festival de Panem

Dharos se abstém de responder à minha pequena ameaça e permanece em silêncio. Mesmo que ele use a sua pior carranca para tentar impor certa indiferença, algo em seu olhar me diz que ele realmente se importa. Ainda assim, esse não é um assunto para ser discutido agora, afinal, estamos vivendo um momento único; não só pelo festival cedido pela Capital, mas pelos simples fato de estarmos juntos. As horas se passam em um piscar de olhos, e quando me dou conta, os pacificadores começam a reagrupar as pessoas no centro da praça. - É melhor eu ir procurar meu pai, antes que ele comece a me procurar. - digo para Dharos e dou-lhe um último, porém rápido beijo. De longe avisto meus pais em cima do pequeno palco montado em frente ao Edifício da Justiça, as suas feições não são as melhores. Forço minha passagem pelo meio das pessoas e me apresso para me posicionar ao lado de minha, esta irrompe assim que me aproximo - Topaz Jamine Ross! Eu disse para circular, não para se perder e não mais voltar! - ela sussurra furiosa, mas antes que eu possa dar alguma desculpa, os idealizadores aparecem no grande telão novamente, e a atenção de todos é voltada para o novo pronunciamento.

Uma vez mais Floyd toma a palavra enquanto inicia um discurso a respeito do feriado – segundo as palavras do próprio - e mesmo que o olhar frio do Beowulf permaneça tão ou mais hipnotizante do que antes, dessa vez não consigo prestar atenção em suas palavras, pois estou mais preocupada com outro par de olhos perfuradores. Corro os olhos pela multidão, tentando localizar Dharos no meio do pequeno mar de gente, e reconsidero as palavras que o garoto me disse mais cedo. Até entendo que um carreirista convicto como ele se anime pela proximidade dos jogos, afinal, eles vivem para isso. Ainda assim, não consigo aceitar que ele, justo ele, o único garoto que conseguiu me tocar de tal forma, esteja ansiando ir para arena e tão breve me deixar sozinha. Não consigo mais me imaginar sentada confortavelmente na poltrona da minha sala de estar, assistindo Dharos lutar pela vida, e apenas torcer para que ele consiga voltar para casa – voltar para mim. Ir para a arena nunca foi uma real opção para mim, meu pai daria sua própria vida para impedir que isso acontecesse, mas o turbilhão de acontecimentos dos últimos dias tem me feito indagar como me posicionarei a respeito de muitas coisas.

Após um breve momento de devaneio, desisto de procurar Dharos no meio de tantos rostos e finalmente volto a minha atenção para o pronunciamento dos idealizadores. É então que me surpreendo com a fala final de Floyd – Lembrem-se, todos aqueles que forem contra Panem não são o suficiente para continuar conosco. – diz ele, e logo em seguida me espanto ao ver um grupo de pacificadores correndo para cima do palco. Observo aflita e me pergunto porque alguns deles estão ajoelhados de frente para a multidão enquanto permanecem sob a mira das armas de outros dos agentes da paz. Condeno-me mentalmente por não ter prestado atenção no discurso do Beowulf, e olho para minha mãe apenas para ver que ela se encontra em igual ou maior estado de surpresa.  Ao olhar para meu pai, vejo-o cabisbaixo, e pela primeira vez desde que me entendo por gente eu posso reconhecer traços de impotência em sua feição. Os instantes seguintes são mais intensos do que eu possa assimilar: os sorrisos macabros dos idealizadores estampados no telão; a visão em relance de Dharos tentando correr no meio da multidão; o barulho alto dos tiros que são disparados através dos crânios dos pacificadores subjugados. Sem fôlego, permaneço atônita no silêncio que se perpetua pelos próximos segundo. O mundo só volta a girar quando os pacificadores de pé começam a encaminhar, forçar e arrastar as pessoas de volta para suas casas. Corro para a beirada do palco, pronta para descer e ir atrás de Dharos, mas um dos pacificadores me segura pelo braço. – Você não precisa fazer parte disso. – diz o homem de branco. – Topaz! Vá para casa com sua mãe! – meu pai grita, e minha mãe me pega pela mão ao arrastar-me para dentro do edifício da justiça.

Tolos foram o que acharam que tamanho ato de generosidade da Capital viria a troco de nada. É como dizem: alimente e entretenha, e as pessoas não reclamarão. Tudo se trata de pão e circo, e mais do que nunca me vejo preso no meio disso tudo.

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