A Divulgação de Tributos!

Ramonna segurou o vestido na altura dos olhos, tratava-se de uma peça usada, como tudo o que possuía, mas o vestido definitivamente ficaria melhor como pano de chão. No lado de fora do prédio de alvenaria, o único na área leste do Distrito, observou uma criança pular em uma poça d’água e ser repreendida por uma senhora de cabelos brancos- o silêncio tão melancólico preenchia os casebres nessa manhã. Ela vestiu-se rapidamente e percebeu momentos depois que o vestido tinha um leve cheiro de bolor, não havendo opção esperou as demais meninas se vestirem e juntas desceram para o hall de entrada.

-Que a sorte esteja sempre ao seu favor. - a velha governanta sorriu, logo indicou a porta de saída. - Ramonna, não voltarás para cá, estou certa? Após a Colheita terá sua maioridade garantida, sendo assim, seu destino são as plantações.

Salazar deu de ombros, era óbvio que se tratava de uma cena, apenas para assustar as outras meninas- como se estas já não estivessem em pânico. - Eu voltarei para as ruas.

A morena esticou seu dedo, logo a agulha perfurou a pele e uma minuscula gota de sangue caiu, o sensor apitou e a moça vestida de branco a despachou. Encolhendo-se entre os demais rumou em direção até a sua área,seu estômago estaria embrulhado se a velha maldita tivesse se dado ao trabalho de alimentar as meninas, mas isso não importava logo mais encontraria algo para comer. Assim que parou puxou o vestido azul, tentando inutilmente fazê-lo se adequar ao seu corpo, viu os Pacificadores fazendo ronda ao redor do perímetro estabelicido para o abate. No palco estava o Prefeito, um homem gordo e de cabelos vermelhos, ao seu lado estava Verona trajando vestes brancas e com um sorriso doce nos lábios;. Ah, lá está. O capitalista era excêntrico, para dizer o mínimo, suas plumas rosa e com o seu cabelo platinado o homem era a única fonte de cor. Theon, era o seu nome.

— Bem-vindos ao centésimo trigésimo quinto Jogos Vorazes! - e lá vamos nós outra vez, a última vez. - E que a sorte esteja, sempre, ao seu favor! Agora, veremos o vídeo vindo diretamente da Capital, para vocês meus queridos.

O documentário padrão foi exibido, aquele onde toda a tragédia é aumentada e faz de Panem a salvadora. Ramonna fitou a Mentora que estava no palco, seus olhos castanhos brilharam por um momento e a menina teve certeza: não era pelo video. Remexeu-se inquieta e logo tratou de prender os cabelos. No instante em que o video terminou, escassos e quase inexistente os aplausos surgiram, mas cessaram assim que a tela voltou a se acender. Droga.

— Olá caros cidadãos de Panem! Estão felizes, que temos um novo evento? Não vou gastar o tempo precioso de vocês, dizendo que Panem é um lugar perfeito, com gratidão, com punições, não. Seria chato, e eu estou com compromisso marcado para depois desse anúncio, então, vamos ao que interessa. Na edição anterior, o presidente Arthur anunciou que teríamos duas edições dos Jogos Vorazes, o que para mim é bom, mas para vocês não. Ou seja, dobramos o número de mortos, e ficamos sem muita mão de obra. Isso dá prejuízo, sabia? — A idealizadora revirara os olhos, novamente, essa mulher precisa de fazer isso.. — Continuando. Nosso presidente disse que teríamos a outra edição com tributos escolhidos pela a Capital, correto? Correto. Os capitalistas, durante a edição que se segue, recebem arquivos de cada um de vocês, e duas semanas antes, vão às urnas, votam. Então, dois dias antes, nós, as idealizadoras, contamos os votos. E as urnas são eletrônicas, porque não somos obrigadas, a manchar nossos esmaltes e nossas unhas recém feitas por mexer em papel. — Alejandra olhou para os outros a sua volta, todos imersos no que a mulher dizia, ela mesmo encontrava-se sem voz— Então, depois de computados os votos, eu escrevo os resultados em dois envelopes, o nome do tributo masculino estará em um envelope com fita azul. Do tributo feminino, com uma fita rosa. No mais, sobre esse novo modo de sorteio, é isso. Bom, espero que se saiam bem. No mais, que a sorte esteja a seu favor, e lembrem-se sempre. Panem é bom, Panem é a glória.

Ninguém vai escolher uma menina de rua, sequer sabem eu existo. O lado bom de viver na rua era esse: todos a ignoravam, ela era um fantasma ainda em vida, uma criança invisível. Não muito longe de onde estava alguns gritos surgiram, eram os mais novo que sabiam como os capitalistas adoravam-nos. Eu sou invisível, sou inútil. Eu não existo. Theon sorriu magicamente, se pudesse acredite, cobriria todos de purpurina colorida. - Oh, que grande surpresa!

O hino começou a tocar, a morena olhou para os lados mais uma vez, uma pontada de tristeza surgiu ao perceber que mais uma vez estava sozinha. Eu não sou ninguém. Centenas de olhos se fixaram no papelzinho que o homem colorido segurava  — Nossa, nossa. Essa escolha foi inesperada! —O representante da Capital arregalou os olhos, podia ser de fato uma surpresa, embora ela desconfiasse que o resultado já estivera ali a décadas.- — O tributo feminino do distrito 9 é nossa amada...

Eu não existo.